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sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Excerto de Onze Minutos + Como se deve amar

Do Diário de Maria, na véspera de comprar o seu bilhete de avião de volta para o Brasil:

Era uma vez um pássaro. Adornado com um par de asas perfeitas e plumas reluzentes, coloridas e maravilhosas. Enfim, um animal feito para voar livre e solto no céu, e alegrar quem o observasse.
Um dia, uma mulher viu o pássaro e apaixonou-se por ele. -Ficou a olhar o seu voo com a boca aberta de espanto, o coração batendo mais rapidamente, os olhos brilhando de emoção. Convidou-o para voar com ela, e os dois viajaram pelo céu em completa harmonia. Ela admirava, venerava, celebrava o pássaro.
Mas então pensou: talvez ele queira conhecer algumas montanhas distantes! E a mulher sentiu medo. Medo de nunca mais sentir aquilo com outro pássaro. E sentiu inveja, inveja da capacidade de voar do pássaro.
E sentiu-se sozinha.
E pensou: "Vou montar uma armadilha. Da próxima vez que o pássaro surgir, ele não partirá mais."
O pássaro, que também estava apaixonado, voltou no dia seguinte, caiu na armadilha, e foi preso na gaiola.
Todos os dias ela olhava o pássaro. Ali estava o objecto da sua paixão, e ela mostrava-o às suas amigas, que comentavam: "Mas tu és uma pessoa que tem tudo." Entretanto, uma estranha transformação começou a processar-se: como tinha o pássaro, e já não precisava de o conquistar, foi perdendo o interesse. O pássaro, sem poder voar e exprimir o sentimento da sua vida, foi definhado, perdendo o brilho, ficou feio - e a mulher já não lhe prestava tanta atenção, apenas prestava atenção à maneira como o alimentava e como cuidava da sua gaiola.
Um belo dia, o pássaro morreu. Ela ficou profundamente triste, e passava a vida a pensar nele. Mas não se lembrava da gaiola, recordava apenas o dia em que o vira pela primeira vez, voando contente entre as nuvens.
Se ela se observasse a si mesma, descobriria que aquilo que a emocionava tanto no pássaro era a sua liberdade, a energia das asas em movimento, não o seu corpo físico.
Sem o pássaro, a sua vida também perdeu o sentido, e a morte veio bater à sua porta. "Porque vieste?" perguntou à morte.
"Para que possas voar de novo com ele nos céus", respondeu a morte. "Se o tivesses deixado partir e voltar sempre, amá-lo-ias e admirá-lo-ias ainda mais; porém, agora precisas de mim para poderes encontrá-lo de novo."

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Achei este excerto do seu diário fantástico! Acho que é a melhor história que li que tenta explicar como se deve amar, se é que assim se pode dizer. Amar não é prender uma pessoa. É amá-la por tudo aquilo que ela é e deixá-la livre! Livre para voar, para partir e voltar. Voltar para nós e aquecer nosso coração. Abraçar-nos como da primeira vez, beijar-nos com o mais profundo dos sentimentos. Devemos deixá-la livre, e deixar que nosso coração sinta saudades da pessoa para que, assim, possamos dar o devido valor aquela pessoa. Se a prendermos acabaremos por a perder, pois o amor acaba por morrer. O amor é um sentimento que deve ser livre de voar, não para se prender numa tentativa de o admirar. O amor deve ser vivido, não pressionado. 
E este amor que eu procuro, que sempre procurei, e que anseio encontrar. Um amor que quero deixar livre para voar, mas que também me deixe livre para vaguear por meu mundo mas que, quando sentir sua falta, possa procurá-lo e sempre encontrá-lo, como se cada dia fosse o primeiro do nosso amor!



*Sheila

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