Sentimos, mas não dizemos

Estou no autocarro. Paramos agora na Guarda. Fui à casa de banho e tive que andar à procura de outra, porque a habitual está em obras. Provavelmente para a porem a pagar. Parece que agora virou moda.

Mas não foi para falar na roubalheira que são os 50cent para ir dar uma mija,  durante a viagem, que vim escrever este post, via app do telemóvel.
A razão foi uma chamada que a pessoa que vem sentada atrás de mim fez.
Quando ela entrou para o autocarro ligou para a mãe. E, no final da chamada, ao despedir-se, disse-lhe "amo-te muito".
Sei que isto é um hábito muito comum, entre pais e filhos, dizerem que se amam. Mas isso não faz parte da minha família.
Somos família, amámo-nos todos uns aos outros, e muito! Mas não somos uma família de afectos. Não fomos habituados a isso. Somos mais de gestos, de acções. Não somos de dizer que nos amamos, nem que nos adoramos. Não somos de andar aos abraços e aos beijos.
A primeira vez que a minha irmã e eu trocámos um adoro-te, já estava ela em França há muito tempo, e eu em Castelo Branco.
Abraça-la comecei após ela ir para o estrangeiro. Quando ela chega de férias sabe tão bem dar-lhe um big abraço-lo, e apertá-la como se não houvesse amanhã...
E com os meus pais foi a mesma coisa. Foi preciso eu ir estudar para fora para, nas minhas breves estadias, me dar um ataque de mimos e começar aos beijos e abraços a eles, e a pedir colo ao meu pai (sim, eu peço-lhe colo, como se fosse uma menininha pequenina eheh).
Mas são momentos de afecto raros e momentâneos. E essas palavras que expressa o que sentimos nunca fizeram parte.
Mas amámo-nos todos. Muito! E acho que todos sabemos disso sem precisarmos de o dizer. Vemos esse amor nos nossos gestos.