Certo dia, estava eu no terminal dos autocarros à procura do meu para vir passar o fim-de-semana a casa, reparei num rapaz que lá andava. Estatura média, moreno, cabelo com aquele ar despenteado e barba, e pensei "ele é giro", mas caguei e andei.
Entrei no autocarro e ele lá estava. E, só por acaso, o meu lugar ficava na mesma linha do dele.
Passado um pouco, entra uma rapariga que eu conhecia dos meus tempos de caloira, e vem a dirigir-se para trás, a falar para mim, e senta-se ao lado dele. "Mas eles conhecem-se?". Pelos vistos, conheciam-se. Eram da mesma turma. E ela lá nos apresentou. Vim a viagem toda a falar com ela, mas ele vinha calado, entregue ao seu mundo. Devo ter olhado milhares de vezes para ele, e pensado "sossegado, misterioso, afinal não é só giro".
Chegámos ao terminal do Porto, saímos todos, e eu disse-lhe adeus. A ele. Ela nunca mais a vi.
E isto foi nos finais do mês de Abril.
Passado uns meses, estávamos nós, mais ou menos, na altura do S. João, encontrei o rapaz no Twoo e achei piada à situação. Meti "gosto".
E não é que, no dia seguinte, ele me fala no facebook? E é super simpático! E sem me conhecer de lado nenhum, ainda me mandou coisas para me tentar ajudar com inglês! E ficámos a falar pela madrugada fora.
E a história foi-se repetindo. Falamos todos os dias, até de madrugada. E tentei ajudá-lo com história, que era a disciplina que ele tinha por fazer e ia a exame.
Na véspera do exame, ele volta para CB e eu vou ter com ele. Já estava farta de estar sozinha e fechada na residência. Fui ajudá-lo a estudar, mas passámos mais tempo a falar e na brincadeira que outra coisa.
No dia seguinte, à tarde, voltei a estar com ele. Andamos a caminhar lá por Castelo Branco, debaixo daquele calor abrasador, à procura de um lugar sossegado e com sombra, para nos sentarmos e passar a tarde. E encontrar um lugar assim é tão, mas tão complicado... Aquela cidade é super quente, tem montes de chafariz e fontes, mas não tem a porcaria de uma sombra!
Acabámos na margem do lago artificial, que sempre se estava mais fresquinho lá, a conversar, a ver os peixes e as pessoas a andarem nas gaivotas.
Ao final da tarde, ele teve de ir embora e, a partir daí, começamos a falar menos. Ele já tinha companhia e tinha a sua vida por resolver.
Mesmo assim, consegui passar a manhã de quinta com ele. Ele estava de directa, sem conseguir dormir, e eu lá o convenci a irmos dar uma volta, para ele espairecer. Acabámos no Castelo, um local onde eu só tinha ido uma vez, à noite, de olhos vendados, e sobre a alçada da Trupe. Foi giro conhecer, finalmente, o Castelo, de olhos abertos e de dia. Ele aproveitou para tentar dormir um bocado, e eu fiquei morena de forma estranha, com as marcas da roupa (a somar às marcas que eu já tinha do dia da bênção das pastas, que até vermelha fiquei). Ando toda colorida, coisa linda de se ver!
Enquanto ele descansava, eu deliciava-me a mexer-lhe no cabelo (ele tinha a cabeça deitada sobre o meu colo) e a olhar casualmente para ele.
No dia seguinte, vim embora, finalmente. Vim de carro, com a minha madrinha académica. Ainda tentei que ele viesse também connosco, mas o carro vinha super carregado, e não havia lugar.
Agora, eu e ele pouco falamos, e tenho pena. Continuamos a falar, mas já não tanto como antes. São conversas mais curtas, normalmente para contar algo ao outro, e pouco mais. Já não há conversas até de madrugada, nem nada, o que tenho imensa pena. Sinto falta disso, mas que posso eu fazer? Ele tem a vida dele, e não posso impor a minha presença.
E mesmo assim, já muito faz ele, que me atura!
E ontem passou o dia comigo. Fomos passear por Gaia e pelo Porto, e hoje não posso das pernas. Mas valeu tão a pena...
Ele já começa a libertar-se mais comigo. Já começa a falar mais, a brincar mais, a abrir-se mais. E ainda alinha na minha mente perversa, o que é giro de se ver. E ele ainda diz que eu ainda não vi nada, pois ele é bem pior, mas que ainda não tem confiança suficiente para isso. Luto para que em breve a tenha, então!
E eu ando completamente babada e nas nuvens! E ele nem sabe.
Ele tem uns olhos lindos, adoro vê-lo sorrir, e caminhar ao lado dele. Andamos tão próximos que os nossos braços vão quase sempre encostados um no outro, e dá-me um arrepio na espinha, confesso.
Ainda por cima, parece que damos para as coisas um do outro!
Fomos ao El Corte e, mal entrámos no último piso, havia montes e montes de livros! E ele disse que tínhamos chegado ao meu paraíso, que podia ficar lá a babar-me. Depois fomos à parte que ele queria, e ele andava todo entusiasmado a dizer "consegui isto a metade do preço". Depois ficamos os dois parados, lá no meio, a olhar paramuma big TV, de 4k, com 2m de cumprimento, e a custar 35 mil €. Coisa pouca. Mas ainda estivemos lá os dois, assim, parados lá no meio durante bastante tempo, a admirar a porcaria da televisão. Sonho ser rica!
Enquanto almoçávamos, descobri que ambos temos o mesmo gosto pela matemática. Ele, tal como eu, nunca teve problemas com tal disciplina e ainda tinha boas notas. Também gosta do mesmo tipo de jogos de eu, de estratégia e lógica.
Ambos gostamos de ar livre e de caminhar.
Ambos gostamos de visitar coisas.
E enquanto ele passa a vida no computador, a jogar, eu passo a minha a ler e a escrever. Também não pode ser tudo igual, né?
Ele via-me tão vidrada com o twitter, que agora criou um. Como ele segue poucas pessoas, consegue apanhar tudo o que eu lá escrevo, ou seja, lá se foi o meu lugar sagrado, em que eu publicava tudo e mais alguma coisa. É que se continuar a fazê-lo, ele vai perceber que me estou a apaixonar, e não pode ser.
Ele acabou de sair de uma situação complicada, e não quero, de forma alguma, que ele sinta que o estou a pressionar. Ele precisa de "esquecer" sozinho, e com o tempo. Não com pessoas a pressioná-lo.
Estamos a criar uma amizade fantástica, e é isso que eu quero continuar a fazer, que evolua, e manter. Quero que ele perceba que tem aqui uma amiga com quem pode sempre contar, para tudo. Que, apesar de tudo, não está sozinho.
E em CB terá muito que me aturar! Não tenho culpa de ele pedir a minha ajuda e de eu, como alma generosa que sou, não ser capaz de dizer que não. Claro que o ajudo! E claro que vou para lá chateá-lo para que ele não fique fechado o dia todo em casa, sozinho. E ele próprio até dá ideias para essa altura, por isso, só faço, inocentemente, o que me mandam!
E se tudo correr bem, em Agosto, ele vem comigo e com a minha irmã à Feira Medieval.
Não tenho culpa de o vento estar a soprar a meu favor, né? :)
Ele faz-me bem... Fez-me aceitar a vida como ela é, descomplicar as coisas sem deixar de ser a Drama Queen que sou e, sendo coincidência ou não, desde que ele apareceu que as coisas têm corrido super bem!
Além do mais, sabe mesmo bem ter um amigo. Eles são muito mais simples e descomplicados que as raparigas, essa é que é essa, e sabe mesmo, mesmo bem!
Ainda por cima sendo alguém com quem consigo estar, não só em CB, mas também cá.
Não estou preocupada com o que se possa passar. Neste momento estou bem, sinto-me leve, e sinto que a vida me sorri. Quero somente aproveitar cada momento, e deixar que as coisas aconteçam, naturalmente.
Não faço tensões de lhe dar a entender o que começo a sentir. Quero somente ser amiga dele, e quero que ele perceba isso. Se as coisas evoluírem, não direi que não, e irei aproveitar cada bocadinho.
Porque cada bocadinho com ele, me faz sentir mais leve e animada. Por isso, vale a pena!
M.
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