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quarta-feira, 18 de abril de 2012

Há pessoas que se conseguem expressar melhor que eu

"Aqui há uns anos tive um namorado com quem acabei, por, enfim, acontece, ter deixado de gostar dele, e tendo em conta que até era bom rapaz e gostava mesmo de mim e tudo, compadeci-me e talvez não tenha sido suficientemente clara no rompimento, pelo que o rapaz, esperançoso, me continuou a mandar mensagens melosas durante meses a fio. 

Se de início tentei manter uma certa afabilidade, afinal, coitado, tinha-lhe partido o coração, o mínimo que podia fazer era ser simpática, que sempre me sentia menos culpada, aquilo a partir de certa altura começou a irritar-me cada vez mais, até chegar ao ponto da simples visão do seu nome no ecrã do telemóvel me provocar uma reacção física fortíssima, um misto de raiva reprimida com vontade de, literalmente, vomitar. Ora, simpatia tem limites, pelo que fui sendo cada vez mais fria e espaçada nas respostas, a ver se ele percebia a (in)directa e parava de me chatear, mas não, não percebia, e continuava com as mensagens forçadamente cúmplices, interpelando-me constantemente, até que tive de ser mais radical e parar de responder de vez.

E aí, finalmente, o mel passou a insulto, com um vai-te foder providencial, que finalmente me permitiu pôr a cordialidade de lado e acabar com aquilo de vez. Um alívio portanto, aleluia irmão!

O problema é que isto quem não se manca não se manca, e nem com todos os sinais, indirectas, ou mesmo muitíssimo directas vai lá, e nem depois de nos insultar de todas as formas possíveis e imaginárias percebe que não existe espaço para qualquer tipo de relação posterior, interpretando o nosso desprezo como uma espécie de desafio ou estarmos a fazer-nos difíceis, voltando sempre à carga, insistentemente, sem perceber que a insistência tem exactamente o efeito inverso àquele pretendido, quando a única coisa que queremos é que nos deixem em paz de vez, a bem do nosso pobre e sensível estômago que se contrai todo de repulsa a cada nova missiva.
E então? E então nada, era só isto. 
Como não dá para resolver o assunto à catanada, que se vai para a prisão, e diz que lá a comida não é grande coisa, nada nos resta senão abnegadamente tolerar, e esperar pacientemente que arranjem outra vítima fonte de interesse, o que, graças a deus, eventualmente acaba por acontecer. Ou, no limite, marcar tudo como spam.
Fim."


Fonte: http://horas-perdidas.blogspot.pt/2012/04/era-uma-vez.html